Londres, 2018
Abaeté, 29 de agosto de 2019
Gustavo,
Gustavo,
Escrevo porque não somos bons com palavras faladas, já
percebeu que nunca conseguimos finalizar uma conversa? No final, sempre
deixamos pra lá a questão.
As questões nunca são fáceis, na verdade são muito difíceis,
por isso é mais fácil deixar passar, mudar de assunto, fingir que nada
acontece... tem sido assim desde sempre.
Vivemos uma relação muito complicada, é uma dependência
emocional muito grande. Temos medo de nos perder, mas será que já não nos
perdemos?
Tenho pensado muito, é difícil pensar também, confesso que
não consigo chegar tão profundo em mim, preciso fazer análise, pra tentar me
entender! Semana passada eu li o livro “Uma aprendizagem ou o livros dos
prazeres” da Clarice Lispector, como todo livro dela é uma leitura que eu acho
pesada, mas parece que caiu como uma luva naquele momento.
Eu sempre falei com você sobre minha necessidade de me
entender, mas acho que tenho medo. Será que eu sou uma pessoa ruim? Acho que
sempre tive muito medo de ser mau...
Tenho muito medo da rejeição, sou muito insegura. Você sabe
(eu acho). Mas o problema é que eu e você somos pessoas complicadas demais,
cheios de traumas e nos seguramos como se fôssemos a salvação um do outro.
Acho que você pensa que não sou a melhor pessoa pra você, que
você merece alguém mais carinhosa, aberta, que concorde com suas ideias – você
já me disse várias vezes sobre as duas coisas primeiras.
Já eu, acho que mereço alguém mais compreensivo, mais calmo
que não tem repentes de raiva e me ofenda sem pensar... Mas quando pensamos em
terminar, da um medo, uma sensação de perda um vazio, não é?
Será costume? Será medo de que ninguém mais vá suportar
nossos defeitos? Medo de ficarmos sozinhos pra sempre?
Quando eu penso em você com outra pessoa sendo a pessoa que
eu sempre quis que fosse comigo me da um aperto, uma vontade de te segurar pra
sempre (porque a esperança de que um dia tudo melhore não morre). Mas isso é
saudável, isso é motivo pra estarmos juntos?
Até quando vamos tentar, esperar, insistir?
Parece que o mundo hoje conspira para que a gente de despeça.
Você meio que “encontrou” seu lugar confortável aí e eu, é muito pouco provável
que vá embora outra vez.
Se você voltasse por mim, eu sempre seria aquela pessoa por
quem você deixou “tudo” e sempre que der “errado” tenho certeza que eu iria
escutar sobre isso. Acho que nosso caminhos enfim se desenlaçaram, as forças
que movem o mundo ou Deus, nos separou. Estamos em uma encruzilhada e
cada um tem um caminho pra seguir.
Vai sempre doer, sempre! Vai sempre me abalar saber de você.
Sua,